sábado, 5 de fevereiro de 2011

A Angustia e o Instante

Na angústia, o espírito  sempre busca uma esperança, pois o momento delimitado pelo tempo, o presente – o instante  é insatisfeito. A esperança representa uma busca por algo melhor. A ela buscamos porque há uma inconformidade com o presente, com a própria vida de modo geral. Sabemos que de fato vivemos o possível, que desejamos – talvez aconteça a suprassunção da angústia – sua eliminação, isto é, o fim desse mal que pode ser eterno pelo suicídio. Na esperança esperamos que tudo se efetue, que a necessidade se co-pertença ao possível.  Nessa co-pertença entre a necessidade e o possível, o realizar-se do indivíduo religioso reflete-se no dado concreto da existência. Em tudo o que lhe acontece espera a possibilidade do Absoluto. Seu desespero angustiante não lhe permite em hipótese alguma que renegue o mundo, não representa uma insatisfação de indiferença com a exterioridade, mas sabe que o de-espero é o único meio de superar a melancolia de uma angústia infinita, pois nesse sofrimento o homem encontra, de forma plena, a sua interioridade.   Quando pensamos nas existências estética e ética, o sofrimento, com efeito, não é algo necessário, de modo que, o desespero não passa de uma transição para um outro momento da vida, podendo muito bem viver sem vivê-lo. Para o homem religioso, o desespero não é uma exceção, mas fator decisivo para tal estágio, pois ai revelar-se-á a sua interioridade, sua subjetividade de forma concreta, caso contrário, Abraão não teria se tornado um cavaleiro da fé.
Quando o homem reconhece seu sofrimento, isto é, que a existência comporta desafios, depara-se com o incógnito que há em sim mesmo, por isso “quanto mais sofrimento mais vida religiosa e o sofrimento permanece”   (REICHMANN, 1971, p. 55).   O prazer que o esteta tanto buscou como fundamento de sua existência não confere nada mais do que o gozo em si mesmo, a escassez de uma verdade eterna, em semelhante postura nos deparamos com o ético, este essencialmente se relaciona com o dever para com o geral. Ambos sofrem a “transubstanciação” causada pela angústia compreendida pelo Cavaleiro da fé. Se agíssemos pelas esferas da razão estética e moral poderíamos chegar ao pressuposto de que, “não é a verdade que governa o mundo, mas as ilusões”  .  Quando nos permitimos viver segundo as ilusões do mundo tendemos a nos desgastar. As coisas simples da existência, como o próprio ato de conviver consigo mesmo desvanece numa idealização, numa abstração tão insuportável ao homem, ao ponto dele instaurar em torno de si uma repulsa a toda a existência; vê-se incapaz de construir relações de boa convivência consigo e com o seu próximo. É-lhe melancólico tudo. Seu espírito histérico e desesperado busca sair das mediações da própria melancolia

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