terça-feira, 26 de julho de 2011

segunda-feira, 25 de julho de 2011

terça-feira, 19 de julho de 2011

Como superar o Desespero?


Como superar esse desespero? Seria necessária uma força: Deus, porque a Deus, justamente, tudo é possível. A relação com Deus aparece então como o meio de salvar o Indivíduo da angústia e do desespero em que sua posição na existência o coloca. No entanto, a relação com Deus nada tem de necessária, não passa também de uma relação possível. De resto, a relação com Deus, dirigida pela fé, não pode trazer qualquer certeza intelectual de libertação das incertezas da possibilidade. A fé não oferece qualquer certeza intelectual, certamente, mas oferece mais para aliviar a condição humana: ter fé é assumir os riscos que derivam das possibilidades da existência. Ora, aqui está a verdadeira escolha diante da existência: não é escolher isso ou aquilo, cair na angústia ou no desespero, mas assumir os riscos da existência pela fé ou não. A esse respeito, Kierkegaard diz que não se trata de escolher isso ou aquilo, mas escolher querer, ou seja, em primeiro lugar, assumir uma responsabilidade. De fato, se tudo é possível e as possibilidades positivas não são mais seguras que as possibilidades negativas, o Indivíduo não tem outra opção a não ser se entregar a Aquele para que tudo é possível. Consequentemente, a fé: ainda é necessário alcançar uma posição na existência em que a fé tenha sentido e importância. (CHARLES LE BLANC. 2003, p. 51-52)

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Kierkegaard e o Possível


O conceito de possibilidade é a pedra angular da construção filosófica de Kierkegaard... O “possível” de Kierkegaard não remete a um juízo sobre o devir das coisas ou o sobrevir de um estado de coisas, mas caracteriza o existir do homem. A vida não é apenas bios, que tem seu movimento próprio do nascimento à morte. A vida do homem é existência, é relação com o mundo e com os outros; é preocupação com sua sobrevivência, é antecipação e projeto, desenvolvimento de um programa que está se escrevendo, saída fora de si da vida, é essa continuidade contrariada por descontinuidades, as das escolhas que é preciso efetuar o tempo todo. O existir é contingência absoluta: o existir é não conhecer outra necessidade a não ser a das escolhas exigidas por um existir livre sem determinação. (CHARLES LE BLANC. 2003, p. 48).

Kierkegaard se opõe à redução lógica do cristianismo


Sob a influência do seu mestre e amigo Poul Moller (1794-1838), Kierkegaard protestou muito cedo contra a redução do cristianismo a um sistema dominado pela necessidade lógica. Opõe à especulação dialética da mediação a separação absoluta entre Deus e a natureza, entre o eterno e atemporal, entre o finito e o infinito, oposições absolutas a não se no momento íntimo da fé, que é a revelação de Deus no tempo. Recusa admitir que o mistério da Trindade perca sua opacidade, que encontre uma explicação objetiva no desenvolvimento dialético hegeliano. Para ele, a revelação de Deus no tempo é um paradoxo que a razão não consegue penetrar. Na linguagem de Kierkegaard, o paradoxo exprime a relação entre um espírito finito e uma verdade infinita.
            Eis portanto, em poucas palavras, alguns elementos a partir dos quais se formou, sem isso reduzir, a filosofia de Kierkegaard. O pensamento de Kierkegaard não é apenas um pensamento que se opõe, por exemplo, ao romantismo e à aplicação do hegelianismo à teologia; é um pensamento positivo que persegue seu objetivo preciso: a apropriação subjetiva da verdade e a construção do papel de testemunha da verdade que o pensador, com os riscos que isso comporta, deve assumir no “temor e tremor”. (CHARLES LE BLANC. 2003, p. 29-30).

Kierkegaard vs Igreja Luterana

Se a fé é estimulada pelo sofrimento, o homem não deve fugir dele pelas mundanidades - o divertimento de Pascal -, mas, ao contrário, deve procurá-lo como a oportunidade inesperada, concedida por Deus, de elevar sua alma até Ele. O cristão é, consequentemente, o homem do sofrimento, e o cristianismo como provação, como Paixão, é a  única via de acesso a Deus. Inelutavelmente: se Cristo é modelo da existência e se é verdade absoluta, essa verdade só pode conduzir ao sofrimento aquele que tenta se orientar por ela, que aceita de fato deixar-se desorientar por ela. A vocação do cristão é é o sofrimento, e Kierkegaard que, bem jovem, já teve sua parcela, tratará de realizá-la plenamente por toda sua vida. Foi essa concepção do cristianismo que o conduziu, pela lógica implacável de sua própria exigência, a romper com a Igreja de seu pais: para Kierkegaard, o cristianismo como interioridade só poderia opor-se ao mundo, só poderia ser-lhe heterogêneo.... Toda sua obra está a serviço de uma única coisa: esclarecer a natureza do cristianismo. (CHARLES LE BLANC, 2003, p. 22-23