segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Objetivo do Blog

Nossa pesquisa encontra no pensamento kierkegaardiano uma nova concepção da noção da constituição do homem, mas isso, mediante a via dos três estágios existenciais: o estético, o ético e o religioso. No primeiro estágio, o indivíduo tem apenas a relação com as coisas sensíveis, isto é, vive uma pré-reflexão sobre o mundo. Ele está colado às coisas extraordinárias, e vive em função de tais ideias. Tal sujeito busca somente a satisfação de ser reconhecido pelo outro. É o típico herói trágico, o qual é considerado como um deus por ter cometido atos louváveis, superando os desafios e alcançando o mérito sobre os demais homens, e, por isso, deve ser admirado e exaltado. Essa esfera é superada quando o sujeito passa a ter que decidir, isto é, ele utiliza-se de sua capacidade de escolha como forma de construir uma nova existência alheia as opniões estéticas.
No segundo estágio, o homem é movido pela moralidade. Está sempre determinado pelas normas sociais. Portanto, suas atitudes devem corresponder sempre ás necessidades pré-estabelecidas pelas convenções pessoais e coletivas. Ele não tem o que escolher, apenas, deve obdecer às normas postuladas de antemão. É um estado onde o homem tem diante de si a obrigação de cumprir seu dever como cidadão. O indivíduo apenas reconhece esse dever, e que não pode agir contrário ao que já está determinado.
No estágio religioso, deparamo-nos com o cavaleiro da fé. Nessa esfera o indivíduo é colocado frente a si mesmo na sua interioridade, com o intuito de alcançar o estágio do herói da fé como última esfera da existência. Esse autor não está apenas formulando um sistema de filosofia, mas trazendo para a filosofia um homem paradoxal, cheio de contradições, indecifrável e enigmático.
Nessa nova visão sobre o que é o homem há uma tentativa de des-ocultar o existir humano. Já foram suspendidos, e não negados, os outros estágios. O homem age na consideração da fé. Kierkegaard apresenta a fé como um paradoxo, isso porque, ela é impossível de ser racionalizada, decifrada pela cognição, e, portanto, quem a adquiriu tende a agir nas contradições existenciais. Pois tal pensador compreende a existência como um nada a ser construído, ou seja, somos possibilidades a todo instante em que existimos. É por esse viés que ele compreende a fé no Paradoxo, isto é, em Deus. Para Kierkegaard, a fé é justamanete uma possibilidade, indeterminada e absurda pelo fato de estar a todo momento se tornando nela mesma uma realidade desprovida de segurança concreta, mas ela é algo a vir-a-ser. É no âmbito do cristianismo que ele encontra a melhor designação do que é a fé: uma mensagem existencial.
Vamos notar que essa esfera paradoxal se torna mais contraditória à medida que se insere no tempo a presença da eternidade, Deus. No conceito de Deus, apontado por este dinamarquês, encontraremos uma recusa ao idealismo alemão, pois esse pensamento de caráter idealista vinha propondo o Conhecimento Absoluto como o meio para superar toda a realidade, e desse modo, Deus é considerado como uma ideia abstrata, identificada como um conhecimento imanente ao pensamento e ao objeto. Ele é descaracterizado da compreensão de um Deus existencial, para se tornar um fenômeno histórico segundo o sistema teórico de Hegel.
Em KIerkegaard há uma tentatica de provar que a existência humana é angustiante, sendo a partir dela que surge a possibilidade de re-construir a vida, justamente porque, o existente é um ser formado por uma síntese de dois termos, onde ambos se contrapõem numa luta por sua vivência, causando o sofrimento que é entendido como desespero. Ele vai apresentar o homem como ser desesperado, enfermiudade que se dá pela possibilidade de escolha. Ao demonstrar as causas desse enfermidade, Soren, também, demonstra pela religiosidade, num salto qualitativo, a superação da doença mortal.
O homem, para Kierkegaard é concebido para além da racionalidade, é desvelado na sua existência - que é desesperada, pois aí ele se efetua, descobrindo-se como homem que naturalmente se reflete por seu sofrer. É nesse contexto de sofrer, ou seja, de se perceber, de se sentir como realidade finita que está a verdadeira filosofia, da qual não se deve duvidar, pelo contrário, deve-se compreendê-la, pois ela possibilita o sentido da vida. Trata-se de uma filosofia não dogmática, isto é, de uma realidade que deve ser vivida e superada no imediatismo do homem.
Afinal, a filosofia kierkegaardiana se propõe a analisar a realidade a partir das coisa concretas, deixando de lado toda uma tradição do pensamento fundamentado na racionalidade do sujeito. O que importa à existência não é a razão e suas compreensões metafísicas a cerca da realidade, mas a possibilidade de viver de cada sujeito singular. Pois a razão não dá conta de responder a todas as angústias do homem, mas ele só poderá ter maior clareza desses sofrimentos à medida que tomar consciência de si enquanto ser contraditório.
A pretensão deste trabalho é mostrar a tentativa kierkegaardiana de esboçar a existência humana na sua concretude. À medida que lemos esse dinamarquês nos percebemos dentro desse processo como participantes desse contexto real que o autor expõe. É uma filosofia nua, desprovida de uma metalinguítica. Mas é algo muito nosso, do nosso dia a dia, pelo fato de sermos homens reais, viventes de uma realidade problemática-existencial. Isso é Kierkegaard, solitário e em miúdos. (Texto Tirado do TCC entregue a UNIFAI em DEZ-2009)

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